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Alexandra Forbes

A gourmet itinerante

Perfil Alexandra Forbes divide seu tempo entre Montreal, São Paulo e restaurantes pelo mundo afora.

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Antonio Rodrigues, o cachaceiro mais hilário do Brasil

Por Alexandra Forbes
17/10/13 10:55

 

Dica da minha amiga Chris Mello, que me escreveu assim: “Olha que genial o video do dono da Seleta. Maravilhoso. Você vai PIRAR com esse personagem.”

Assisti o vídeo, que acompanha reportagem publicada na revista Serafina, e pirei mesmo. A melhor frase: “meu filho disse que nao tem helicópetro de 30 lugares, mas quem tem dinheiro compra 2 e emenda”.

Toni, como é conhecido, é o dono não só da Seleta, mas também das marcas Saliboa e Boazinha, e se auto-denomina o rei da cachaça. O resto não conto: assistam!

Rei da cachaça cria cabras e cobras e sonha em distribuir dinheiro

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México, a bola da vez

Por Folha
16/10/13 03:00

Mole, um molho que virou um protagonista de um prato no Pujol, restaurante de Enrique Olvera na Cidade do México

Não há chef mais genial que Albert Adrià, irmão de Ferran. Pergunte a ele o que acha do México, país que já visitou 14 vezes, e ele responderá: “Me encanta, tengo alma de mexicano”.

Em janeiro, abrirá em Barcelona um restaurante mexicano, maior do que seu famoso Tickets (onde serve tapas modernas). Terá uma taqueria e mezcaleria (bar de tacos e mezcal, o destilado primo da tequila que virou moda entre mixologistas) além de um salão com 80 lugares.

Ele é um de muitos chefs não-latinos a cair de amores pela cozinha mexicana, a bola da vez. Tudo começou com o chocante anúncio, em 2010, de que Alex Stupak iria deixar o posto de chef-pâtissier no WD-50 (premiado restaurante de vanguarda) para abrir o mexicano Empellón, também em Nova York. Poucos entenderam a vertiginosa guinada na carreira. Mas o sucesso foi tanto que logo veio um filhote mais casual: Empellón Taquería.

Desde então, a onda mexicana alastrou-se por Nova York. A inglesa April Bloomfield (the Breslin) fincou bandeira no Midtown, com seu Salvation Taco. O estrondoso sucesso ABC Kitchen, do francês Jean-Georges Vongerichten, perto da Union Square, ganhou há pouco irmão “chicano”: o ABC Cocina também foca nos tacos, embora o menu esteja mais para “nuevo latino” do que propriamente mexicano.

Até Danny Bowien, o americano de descendência coreana que virou sensação em Nova York com o Mission Chinese, resolveu testar seus dotes de “tortilheiro”. Abrirá na mesma cidade o Mission Cantina.

Em breve, todos terão que competir com um chef mexicano e de muito peso: Enrique Olvera, cujo Pujol, na Cidade do México, está entre os melhores restaurantes do mundo. Estrela da gastronomia de seu país, prepara a inauguração de um restaurante em Manhattan.

Essa onda mexicana vem no rastro da peruana. E nós, brasileiros, a comer poeira. Pena não existir um único ótimo restaurante verdadeiramente brasileiro lá fora que não seja churrascaria. Não está na hora?

 

E mais México:

Iñaki Aizpitarte, do Le Chateaubriand, em Paris: outro chef apaixonado pelo México, conta porque em vídeo

 

 

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Chef Joan Roca do El Celler de Can Roca cozinha em São Paulo esta semana

Por Alexandra Forbes
14/10/13 16:26

Chef Joan Roca fazendo demonstração no estúdio do fotógrafo Sergio Coimbra, hoje em São Paulo Foto: Ivan Marchetti

 

Como o mundo dá voltas…. nem posso acreditar que o humilde e educadíssimo chef que conheci quinze anos atrás, quando cozinhava em uma modesta casa no subúrbio de Girona, na Catalunha, virou superstar. Joan Roca não mudou, mas o mundo à sua volta, sim. E muito.

À época, foi um sacrifício convencer meu então marido a pegar um trem comigo de Barcelona para passarmos a noite em Girona e jantar no El Celler de Can Roca, que tinha “apenas” duas estrelas Michelin e sua fama limitava-se ao universo dos  mais ferrenhos foodies. De lá para cá, o Celler mudou-se para um lindo imóvel construído sob medida por Joan e seus irmãos, veio a terceira estrela Michelin e, por fim, a primeira posição naquele tão famoso ranking de “melhores restaurantes do mundo”.

Joan está em São Paulo, fazendo um tour digno de Rolling Stone (site oficial neste link). Patrocinado pelo governo espanhol e marcas espanholas, está comandando vários almoços e jantares no consulado espanhol e no Manioca, espaço de eventos anexo ao Maní. Hoje cozinhou para 24 sortudos no belíssimo estúdio do fotógrafo Sergio Coimbra.

Parece-me até engraçada essa pomposa visita à cidade, tão noticiada e comentada, porque no fundo Joan é o exato oposto do que se esperaria de um chef superstar. Nada vaidoso, não vive em função de prêmios ou estrelas, mas sim de seu trabalho e sua família. Agradece os confetes mas dá pouca bola.

Eu não costumo recomendar eventos de chefs. A comida de um chef nunca é a mesma quando ele não está em sua própria cozinha. Além disso, os ingredientes paulistanos nada têm a ver com os catalães. Entretanto, do jeito que tornou-se praticamente impossível conseguir reserva no El Celler de Can Roca, esses almoços e jantares em São Paulo são a única oportunidade para provar um pouquinho do que o chef é capaz de fazer. Outro ponto a favor: Daniel Redondo, braço-direito de Helena no Maní e responsável pelos almoços no Manioca, praticamente cresceu na cozinha do Celler. Tem com Joan relação fraternal e cozinham juntos em perfeita harmonia.

Resumindo: podendo pagar (e barato não é), o programa é imperdível.

Neste link, o site para comprar lugar nos almoços no Manioca a 660 Euros por pessoa.

 

E mais Joan Roca e El Celler de Can Roca, e Daniel Redondo do Maní:

– O segundo Can Roca: o restaurante que explica o sucesso dos irmãos Roca: coluna no COMIDA

– Minha entrevista com os irmãos Joan, Jordi e Josep Roca, do El Celler de Can Roca, eleito número 1 do mundo no último 50 Best

– Vídeo mostrando o casal Helena Rizzo e Daniel Redondo do restaurante Maní minutos antes da cerimônia de premiação, em Londres, dia 29 de abril.

– Rocambolesc, a sorveteria de Jordi Roca, chef pâtissier do El Celler de Can Roca

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Tappo, do chef Benny Novak, agora com novo chef: Rodolfo de Santis

Por Alexandra Forbes
05/10/13 23:06

 

Tenho uma quedinha pela Tappo Trattoria, desde sempre. Então não sei se comemoro ou me preocupo com a recente troca da guarda…. Acaba de assumir o comando Rodolfo de Santis, ex-Biondi (?).

Quem deu a notícia foi o Arnaldo Lorençato, da Vejinha.

Sempre acreditei no lema “melhor não mexer em time que está ganhando”, mas Benny Novak deve saber o que faz….

Já escrevi sobre a Tappo algumas vezes, e minha ida lá mais memorável foi com minhas amigas Lea e Constance, mas a última menção foi essa aqui.

E almocei lá em julho. Me pareceu tudo igual, o que, nesse caso, é uma excelente coisa. Nada muito sofisticado, mas sempre honesto. E adoro a vibe daquele salãozinho.

Agora, com o chef novo, a ver….

 

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Sai o guia Michelin de Nova York versão 2014. Sobe Jungskik, cai Gordon Ramsay

Por Alexandra Forbes
02/10/13 16:03

O lançamento da edição 2014 do guia Michelin de Nova York trouxe poucas surpresas. Os tri-estrelados mantiveram suas estrelas. O restaurante do Gordon Ramsay no hotel London, do qual ninguém fala mais, perdeu ambas as estrelas, previsivelmente.

A única surpresa, para mim, foi darem uma segunda estrela a um restaurante coreano, o Jungsik – fato inédito para o guia, aliás. Nem preciso dizer que agora fiquei curiosíssima para conhecer….

Eis a seguir os estrelados:

3 estrelas Michelin:
Chef’s Table at Brooklyn Fare
Daniel
Eleven Madison Park
Jean-Georges
Le Bernardin
Masa
Per Se

2 estrelas Michelin:
Atera
Jungsik
Marea
Momofuku Ko
Soto

1 estrela Michelin:
Ai Fiori
Aldea
Annisa
Aquavit
Aska
Aureole
A Voce Columbus
A Voce Madison
Babbo
Blanca
Blue Hill
Bouley
The Breslin
Brushstroke
Cafe Boulud
Cafe China
Carbone
Casa Mono
Caviar Russe
Danji
Danny Brown Wine Bar & Kitchen
Del Posto
Dovetail
15 East
Gotham Bar and Grill
Gramercy Tavern
Hakkasan
Ichimura
Jewel Bako
Junoon
Kajitsu
Kyo Ya
Lan Sheng
Le Restaurant
Lincoln
Minetta Tavern
The Modern
The Musket Room
NoMad
Oceana
Peter Luger
Public
Rosanjin
Rouge Tomate
Seasonal
The Spotted Pig
Sushi Azabu
Sushi of Gari
Tamarind Tribeca
Telepan
Tori Shin
Torrisi Italian Specialties
Tulsi
Wallse
WD-50

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Peitos e Coxas estão em baixa

Por Folha
02/10/13 03:00

Peles de galinha empilhadas e prensadas viram delicioso prato no Amass, em Copenhague

 

Em julho, fui à Bélgica para o Gelinaz, um jantar maluco em que degustei mais de 20 pratos de galinha. O melhor de todos era uma hóstia redonda intensamente “galinhosa”, resultado da desidratação da espuma coletada de um caldo de galinha, cenoura e temperos.

 

O autor da receita, René Redzepi, chef-proprietário do Noma em Copenhague, batizou-a de “Mas a Pele é a Melhor Parte da Galinha”. Nesse caso, não se tratava da pele propriamente dita, mas sim uma translúcida e quebradiça película.

Mas o bizarro bocado acordou-me para uma curiosa tendência: a galinha, há tanto preterida em favor de aves mais nobres como pato ou codorna, tem aparecido em menus premiados com crescente frequência.

Em restaurantes como o Attimo, em São Paulo, ela vai inteira à panela e é servida ao “molho pardo” (feito do resto da galinha e linguiça de sangue). Mas tenho visto preparações mais estranhas em que se privilegiam partes normalmente descartadas, principalmente… a pele!

O mesmo Redzepi foi um dos primeiros a transformá-la em biscoitos crocantes e, no menu atual, serve-a com ouriço, sobre torradinha.

No Noma, em Copenhague: torradinha, ouriço (uni) e uma espécie de hóstia feita da espuma que forma-se sobre um caldo de galinha

 

Matt Orlando, que foi braço direito de Redzepi muitos anos, tem no menu de seu novo Amass, também em Copenhague, peles de galinha empilhadas, comprimidas e fatiadas. Parece uma terrine, mas tem textura bem molinha, quase gelatinosa.

Vejam só como eles fazem isso, em foto postada no Twitter do restaurante:

Na cozinha asiática (coreana, principalmente) usa-se muito esse ingrediente, especialmente em espetinhos. Virou prato-vedete da nova taberna coreana Hanjan, em Nova York, por exemplo.

Já para ocidentais, é novidade. O chef Sean Brock pôs pele de galinha frita no menu de seu Husk, na Carolina do Sul, EUA. Hit. No novo Vin Papillon, em Montreal, Canadá, aparece em pedacinhos ultracrocantes, sobre couve-flor grelhada. Outro hit.

E o patê de fígado sobre pele crocante de galinha está entre as entradas mais pedidas no paulistano Epice. Sinal dos tempos. Só pergunto: que fazem os chefs com toda aquela carne de galinhas peladas?

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Chef Morena Leite em Frankfurt, e seu novo Santinho no Museu da Casa Brasileira

Por Alexandra Forbes
01/10/13 14:28

 

Há tempos que estou querendo escrever sobre minha amiga Morena Leite.

Sim, porque é preciso já ir avisando, na primeira linha, que trata-se de uma amiga, e que, portanto, tudo o que eu possa falar dela será subjetivo e tinto pelo filtro cor-de-rosa do meu carinho por ela.

Tive o ímpeto de levantar o assunto no blog porque recebi um email convidando para demonstrações de cozinha que ela irá fazer na feira de livros de Frankfurt, nos próximos dias 9 e 10, para promover seus livros. Já nem sei mais quantos livros ela já tem a essa altura.

Aí, no outro dia, vi no Facebook dela que estava a dar palestra em Brasília.

Essa é Morena: sempre por aí, pelo mundo, cozinhando para 15, 30, 500 de uma vez, sobre um palco ou sob a lona de um circo, sempre com tudo sob controle, como se nada fosse.

Ela ficou famosa com seu restaurante Capim Santo, nos Jardins (sim, sim, isso tudo mundo já sabe) mas hoje ela toca muito mais do que isso, inclusive dois restaurantes em dois museus diferentes, ambos chamados Santinho.

O Santinho do Tomie Ohtake eu conhecia há tempos, mas o novo, no Museu da Casa Brasileira, fui visitar em julho e me deixou de queixo caído. Uma beleza! São Paulo tem muitos poucos restaurantes onde se pode comer ao ar livre sem dar de cara para uma rua barulhenta. E nesse Santinho, não só o jardim é imenso como eu me senti como se estivesse no interior.

Tirei mil fotos, de tão encantada. Aí fui me esquecendo de mostrar para vocês, mas finalmente, aqui estão! Acabei nem experimentando a comida, mas vi que havia um lindo e farto bufê bem brasileirinho.

Enfim: queria dar a dica para quem ainda não foi nem ouviu falar e estiver à procura de um lugar gostoso e bucólico para almoçar. E queria dizer publicamente o quando admiro essa chef-empresária que toca um milhão de coisas ao mesmo tempo sem se abalar. Queria eu ter um décimo da energia dela….

Santinho no MCB
Funcionamento: terça a domingo das 10h às 18h
Informações e reservas: (11) 3032.2277

 

 

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Finalmente, bons queijos no Brasil?

Por Alexandra Forbes
22/09/13 15:17

Vila Viniteca, em Barcelona: uma das melhores lojas de vinhos e queijos da Espanha

Nunca entendi muito bem porque quase não existe queijo bom no Brasil. Sei que o calor não ajuda, mas temos muitas regiões montanhosas e mais frias do que a média, onde produzimos, entre muitas outras coisas boas, café de primeira.

Antes que venham me apedrejar, já vou dizendo que sei que há bons queijos nas serras mineiras, a começar pelo famoso queijo da Serra da Canastra, mas para um país do tamanho do nosso, é pouco queijo bom, artesanal, e muito queijo ruim, sem gosto, industrializado.

O que mais se vê, nos supermercados, são aquelas borrachas amareladas “tipo Brie” ou “tipo Camembert”, queijos Minas sem graça e queijos comuns para fazer sanduíche para por na lancheira dos filhos.

Simplesmente não temos o hábito de comer bons queijos. Raros são os restaurantes que oferecem o serviço de queijos (palmas para o Fasano, cujo carrinho de queijos melhorou muito ultimamente). E como a maioria sabe pouco e liga pouco, não existe demanda por um produto de primeira.

Por isso fiquei animadíssima com a chegada do “Mestre Queijeiro”, um site que vende queijos artesanais brasileiros. Muitos são inspirados em queijos famosos europeus, o que é normal. Mas, feitos de leite nacional e em terras brasileiras adquirem, naturalmente, características de seu terroir.Exemplo: um queijo de cabra em formato de pirâmide inspirado no Valençay, chamado Pirâmide do Bosque.

Quem toca o negócio é Bruno Cabral, que trabalhou por três anos em uma das melhores queijarias da Espanha, a Vila Viniteca em Barcelona, que eu adoro.

queijos à venda na Vila Viniteca, em Barcelona

Outra boa nova foi a inauguração da loja A Queijaria na Vila Madalena. Segundo o Guia da Folha, “No pequeno espaço são encontradas cerca de 70 variedade de queijos, garimpadas com pequenos produtores em Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul e Pernambuco.”

Espero que o trabalho do Bruno e d’A Queijaria ajude a abrir a cabeça dos brasileiros.

Poderá tomar tempo, já que os melhores queijos muitas vezes são gostos adquiridos e podem parecer repugnantes.

Eu como queijos tão mofados e malcheirosos que, disse-me certa vez meu ex-sogro à mesa de finíssimo restaurante, “parece que um cano de esgoto estourou ao lado”. Os favoritos? Os franceses Epoisses, Langres e Fourme d’Ambert – o primeiro tem notas de meia suada guardada em vestiário e o último, de cocheira de cavalos.  Outro favorito é o Comté, de aparência e aroma mais palatáveis ao não-iniciado.

 


Queijo é um troço hard-core, se formos pensar bem. Já começa pelo modo de fazer. Talha-se leite com ajuda de coalho, essencialmente a enzima retirada das tripas de novilhos ou cabritos. Descarta-se o soro e, no mingau azedo que resulta, deixa-se milhares de bactérias refestelando-se, consumindo seus açúcares transformando-o de algo repugnante a delicioso.

Assim define o dicionário Houaiss a palavra podre: “1. que se encontra em estado de decomposição; deteriorado  2 que cheira mal; fétido, infecto”.  Nada disso significa, necessariamente, que algo podre não seja bom de comer. O que separa o comestível do putrefato, afinal, é nosso gosto pessoal, influenciado por padrões culturais. O tubarão fermentado tão apreciado na Islândia causaria ojeriza a um brasileiro. A fruta não passa por meros três estágios – verde, madura e podre – mas sim uma miríade de estágios, cada qual com suas características de textura e sabor. Banana boa de fazer doce já tem casca preta e cara de estragada. Alimentos são vivos e vão se metamorfoseando a cada dia graças a bactérias, fungos e enzimas.

 

O queijo está longe de ser a única iguaria a flertar com o pútrido. Há milênios os asiáticos têm entre seus alimentos preferidos aqueles de sabor forte, fermentados e/ou envelhecidos, como o shoyu japonês, o potente molho de peixe da Tailândia e do Vietnã e o kimchi, prato típico coreano feito de legumes temperados e fermentados. Aceto balsâmico não passa de mosto de uva cozido e fermentado longamente, exposto ao ar e bactérias.

Eu tenho tendência a gostar de tudo o que passou um tempo “curtindo” e sendo transformado por bactérias, mas sei que no Brasil sou minoria. Mas quem sabe, com a chegada ao mercado de mais lojas de queijos, amplie-se o conhecimento e aumente-se a demanda.

Para os poucos bravos que buscam fazer queijos artesanais no Brasil, seria a salvação. E para gulosos como eu, motivo para festejar.

 

p.s. Voltando a falar da Vila Viniteca, recomendo uma visita vivamente a quem estiver planejando ir a Barcelona. Eu comprei queijos e presuntos para comer no quarto do hotel, mas eles servem pratos de queijos e frios na própria loja também. Há boa oferta de vinhos em taça.
VILA VINITECA – rua Agullers 9. Barcelona
Tel +34 933 101 956
teca@vilaviniteca.es
Horario:
2a a sábado de 8:30 a 20:30 horas

Vila Viniteca, em Barcelona

 

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Feira gastronômica Mistura, em Lima, reflete a paixão dos peruanos por sua cozinha

Por Alexandra Forbes
22/09/13 12:54

 

Feira gastronômica Mistura, em Lima Foto: Apega

 

Há anos eu digo, quando me perguntam porque eu acho a cena gastronômica de Lima tão especial, que lá

todo mundo é entendido. Do mais pobre ao mais rico, os limenhos têm uma opinião sobre

restaurantes, sobre o celeb-chef Gastón Acurio, sobre tudo.

Mas fazia tempo que eu não comprovava essa minha teoria. Até que, morrendo de frio, resolvi abandonar

os brasileiros na feira gastronômica Mistura e voltar para o hotel, uns dias atrás.

Peguei um táxi caindo aos pedaços e logo o motorista disse: “Deu sorte. Aqui quase não passa táxi, ninguém quer descer até a praia pra ter prejuízo”. Então tá….

Aí meu taxista, super eloquente, falou todo o tempo do Mistura até meu hotel sobre o que ele achava que estava certo ou errado na organização do evento.

Parêntese: era meu terceiro ano visitando a feira. Acho tudo incrível mas este ano achei um pouco mais frio, tanto em “vibe” como em temperatura, não acho que tenha sido boa ideia mudar o Mistura para a beira-mar…

Parêntese 2: a primeira barraca que visitei foi a La Caja China, onde Juan Talledo serve o leitão mais pururuca do século, assado lentamente em caixas metálicas, seguindo técnica importada da China.

Os chefs Thomas Troisgros e Alberto Landgraf, do Brasil, experimentando a pele ultra pururuca do leitão da Caja China, de Juan Talledo

Segundo o sábio taxista, tudo mudou desde que o chef Gastón Acurio saiu da organização. “No começo, esperávamos na fila felizes, porque sabíamos que seríamos recebidos com um sorriso e alguém dizendo “seja bem-vindo!”. Não é mais o caso, agora virou uma coisa comercial”.

Ele, como tantos peruanos, sente enorme admiração pelo Gastón. Uma coisa que no Brasil só vejo no mundo do futebol, adoração, mesmo.

Mas de bobo não tem nada. E foi explicando, com base em sólidos argumentos, porque tinha sido péssima ideia mudar o (fantástico) evento de seu prévio endereço para o espaço à beira-mar. E porque achava o fim da picada terem aumentado o preço das entradas e do estacionamento.

Tenho vontade de inserir aqui um ícone linkando para a conversa toda, que gravei quase toda. Mas interessaria a poucos, eu sei…

O mais importante, para mim, é notar o quanto aquele homem se importava com o assunto. Em São Paulo, isso jamais aconteceria. Nunca achei um taxista que soubesse nomes de chefs ou da existência de um evento como, por exemplo, o Semana MesaSP.

Minha amiga Constance Escobar, que também esteve este ano no Mistura, perguntou em seu Instagram: “Será que ainda teremos no Brasil uma feira com essa abrangência e que promova tamanha inclusão do povo?”

Ora, para mim a resposta está no taxista. Em Lima, é um movimento que vem da base, todos se interessam por comida e interessam-se pelo Mistura, como se fosse, para nós, um importante jogo de futebol da seleção. Já em São Paulo, vejo os taxistas com mini-tevês ligadas na novela ou naqueles programas de notícias escandalosas. Falar de comida, de algum chef? Nem pensar!!

Centenas de milhares de peruanos vão ao Mistura, dando-se ao trabalho de investir o pouco que têm para festejarem juntos a fartura e a beleza daquilo tudo. Claro que ajuda o fato de que os organizadores fazem tudo mais do que direito: há gente limpando sem parar, bandinhas folclóricas desfilando, quiosques divididos por especialidade, tudo super bem feitinho.

As palestras dos chefs estrangeiros em um belo auditório, sinceramente, são o de menos. O que importa, no Mistura, é a comunhão. As famílias curtindo as comidas, em mesas de piquenique. E o orgulho que sentem os expositores. Por muito que ame meu Brasil, acho que temos muito chão pela frente até conseguirmos ter algo parecido.

Falta interesse, simplesmente.

Cada povo com seus gostos….

 

Peruanos almoçando no Mistura Foto: Apega

 

No Mistura: leitão assado na brasa, La Caja China

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A ascensão do chef Virgilio Martínez, de Lima

Por Folha
18/09/13 03:00

O chef Virgílio Martinez com sua mulher e braço direito, Pia León

Uma noite, mais de dez anos atrás, jantei no D.O.M. e enxerguei o que nunca tinha enxergado antes. O restaurante tinha virado gente grande: o melhor da cidade naquele estilo. Pouco depois, votei nele em um importante guia anual de restaurantes de uma revista, na categoria contemporâneo, e outros jurados também.

Naquele ano, pela primeira vez, o D.O.M. tirou o primeiro posto do Carlota e, daquele ponto em diante, não parou mais de subir.

Acabo de voltar de Lima, onde tive a mesma impressão de estar assistindo a uma nave decolar. Jantei pelo terceiro ano consecutivo no Central e, mais uma vez, deslumbrei-me. O Astrid y Gastón de seu amigo Gastón Acurio pode ter levado o prêmio de número um da América Latina, mas, para mim, o Central ganha nos quesitos comida (não só deliciosa como lindamente apresentada) e harmonização de vinhos.

Virgílio Martinez, o chef-proprietário, sabe inovar sem abrir mão do sabor. Há ideias muito estudadas por trás de pratos como o que usa todas as partes do milho, dos cabelos da espiga à palha para fazer caldo, mas essas ideias jamais tornam-se protagonistas. Ele deixa o ingrediente falar, sem manipulá-lo demais. Grandíssimo camarãozinho de rio servido cru. Dulcíssimas vieiras, em receita gostosamente acidulada. Até um humilde purê de batatas se sai excelente.

Martinez fundou a Mater Iniciativa, que está capitaneando pesquisas sobre ingredientes autóctones peruanos. Do alto de seus 36 anos, tornou-se líder de uma nova geração de chefs conterrâneos. Mal emplacou em Londres com seu restaurante Lima —eleito em 2012 melhor novo restaurante latino-americano pela “Time Out”— e já planeja um segundo negócio na capital inglesa.

Com Acurio, irá inaugurar no ano que vem um grande restaurante peruano, casual, com um anexo  para servir menus gastronômicos. Ainda sem nome, servirá de embaixada gastronômica do Peru na Europa. Podem apostar: o garoto logo será visto como o Atala do Peru.

 

Chefs Virgílio Martinez e Pia León: casal de ouro

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