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Alexandra Forbes

A gourmet itinerante

Perfil Alexandra Forbes divide seu tempo entre Montreal, São Paulo e restaurantes pelo mundo afora.

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Um chef tem que beijar bem, mesmo sem saber quem ele está beijando

Por Alexandra Forbes
21/02/13 01:41

Chef Bo Bech, do restaurante Geist em Copenhague crédito: divulgação

Os mais pudicos que mudem de página: não tinha como não contar essa que me aconteceu hoje.

Liguei para Copenhague, aqui de onde estou (Bahia, de novo!) – só isso, uma aventura em si, considerando a precariedade das telecomunicações onde me hospedo – para entrevistar o genial Bo Bech, dono do Geist (um chef daqueles que é adorado por outros chefs, o que é sempre um bom sinal).

Queria entrevistá-lo sobre algo que sairá em breve na FOLHA.

Falando de restaurantes gastronômicos, ele de repente me pergunta:

“Alguém já te beijou mal? Como é um beijo ruim?”

Eu, atônita, enrolei “Er… veja bem… sei lá, claro que eu sei o que é um beijo ruim. Agressivo demais?”.

Ele:

“Pode ser um beijo com um de mil defeitos. Língua demais, língua de menos, molenga, forte, etc. E o que é um beijo bom?”

Eu:

“Ora, é fácil: um beijo dado quando se está apaixonada(o).”

E aí ele disse que com os restaurantes é o mesmo. Quando não é um lugar apaixonante, um chef apaixonante, a gente analisa clinicamente os defeitos. Não estava bom porque passou do ponto, ou faltou sal ou sei lá o quê. Mas quando caímos de amores por um restaurante, nem lembramos do porquê, mal reparamos nos defeitos, apenas nos deixamos levar, como quando damos um beijo apaixonado.

Só que para o chef é mais difícil. Ele não sabe quem vai “beijar” a cada noite, e mesmo assim tem que se virar para deixar a pessoa (o cliente) enamorado(a) o suficiente para nem ligar para eventuais falhas.

E não é que ele tem razão?!

p.s. por falar em Bo Bech, se alguém estiver com viagem marcada a Copenhague, recomendo vivamente reservar cadeiras no “bar” do Geist, onde se vê o show da cozinha. Não é um lugar ultra chique e sofisticado, mas sim animado, jovem. E come-se muuuuuuuuuuito bem – melhor do que em muito lugar estrelado que custa o triplo.

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Quando uma cenoura vale por um bifinho

Por Folha
20/02/13 03:00

 

Em janeiro, dois pratos do chef Daniel Humm me deixaram de queixo caído. Em seu NoMad, em Nova York, comi cenouras assadas a baixa temperatura com pele de pato crocante. Carnudas como um filé-mignon, quase. No avizinhado Eleven Madison Park, eu me diverti com o tartare em que prendem um moedor de carne na mesa e moem uma cenoura à frente do cliente.

Humm rejeita a velha hierarquia que dita que proteínas dominam os pratos e o resto apenas serve para guarnecer. Inverte a equação, tornando legumes e verduras protagonistas e carnes coadjuvantes. Com seu tartare, quer provocar.

Nos anos 90, grandes chefs franceses como Michel Bras e Marc Veyrat já mostravam que legumes e verduras podem estrelar menus sofisticados. Alain Ducasse ficou famoso por colocar, em um mesmo prato, um legume em preparações diversas. Alain Passard abdicou das carnes, transformando seu L’Arpège no primeiro três-estrelas “Michelin” (quase) vegetariano da história.

Bom ver a nova geração seguindo o exemplo, colocando vegetais e animais no mesmo patamar. A cenoura, em especial, anda com o prestígio em alta. Dani Garcia, reputado chef espanhol, serve em seu Calima uma sinfonia “cenourística”, em que ela aparece desidratada, liquidificada, ralada e em pedaços. No Vale do Napa, o chef Christopher Kostow, do The Restaurant at Meadowood, usa os ramos para fazer uma crosta gelatinosa e verde sobre um peixe, que complementa com três tipos de cenoura.

Premiados cozinheiros de Copenhague servem-na transformada, ora envelhecida longamente ora engrouvinhada, com textura de uva passa. O mago Victor Arguinzoniz, que tem o remoto restaurante de grelhados Etxebarri, no País Basco, extrai o suco da raiz e serve em um shot.

Cenouras no restaurante NOMA em Copenhague

Prestam-se a tudo, as cenouras! Mas ainda estou para vê-las mais gostosas do que quando assadas a fogo baixo. Soltam seus açúcares devagarinho e vão virando purê por dentro, brilhosas com o laqueado da manteiga. Bem-feitas, são de tirar o mais resoluto carnívoro dos trilhos.

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Fäviken: quando vale a pena ir ao fim do mundo para comer

Por Alexandra Forbes
18/02/13 18:23

Eu bem que tentei ter vontade de escrever outro post, sobre outro tema, antes a voltar a falar da minha ida à Suécia. Mas meu jantar no restaurante Fäviken, lá no fim do mundo, 700 quilômetros ao norte de Estocolmo, não me sai da cabeça. Fico apertando rewind, play, rewind, play na minha cabeça, revivendo cada lance de uma aventura absolutamente mágica.

E que aventura! Eu e minha amiga e parceira de trabalho Marie-Claude Lortie pegamos um trem noturno para chegar, oito horas mais tarde, na cidadezinha de Are, estação de esqui, para dali andar mais meia hora em nosso carro alugado até a fazenda isolada onde fica o Fäviken.
(A terceira mosqueteira, Hivron, detesta trens esquisitos e foi de avião).

(Parêntese: as fotos da Marie-Claude, descritas no blog dela, em francês, neste link)

Bastou chegarmos para o cenário, por si só, já nos tirar o fôlego. Uau!

O jantar começa às 7 em ponto, para as 10 ou 12 pessoas que eles recebem por noite. Todos comem a mesma coisa, ao mesmo tempo, em um salão que mais parece um celeiro, com jeito de século 18.

Os aperitivinhos, ou “snacks”, são servidos no salão de baixo, espécie de lounge rural, com grande lareira em um dos cantos. Um dos primeiros foi este abaixo, já famoso: uma conchinha de sangue de porco com ovas de salmão dentro. Não-curadas, bem fresquinhas, quase doces.

E que tal esse croquetinho de miolo de porco, com meio “gooseberry” fermentado por cima para dar um crunch, e sal de pinho? Minha avó, que amava miolos, aprovaria. Uma nuvem crocante, cremosa por dentro.


Líquens, já comeram? Melhores do que podem imaginar, também ultra-crocantes.

Aqui já pulei alguns… serviram uns crisps de semente de linho com dip de mexilhões (ótimos), uma espécie de presunto de ganso feito ali mesmo, também ótimo, um quadradinho de queijo feito na hora (sim, na hora, literalmente 5 minutos antes de ser servido!), sedoso e leitoso.

Muitas pessoas costumam achar que todo restaurante de chef famoso servindo longos menus faz cozinha “moderna” ou “molecular”. Besteira generalizar. No Faviken, a comida é comida mesmo, reconfortante, gostosa, reconhecível. Vide esse lagostim com “creme quase queimado”. De queimado não tinha nada, o gosto lembrava beurre noisette e nem preciso dizer que manteiga e lagostim nasceram para andarem juntos. Que delícia.

Esse mero, perfeitamente selado em frigideira pelando, sem óleo, era outro primor. Simples e gostoso. Com uma metade de cenoura e um vinagrezinho com sabor de spruce (espécie de pinho).

Nesses menus intermináveis sempre há uma coisa ou outra que impressiona menos. Foi o caso do mexilhão abaixo, servido cru (e passado em um pó verde) e um molho contido em folhinhas de couve de Bruxelas.

Vai uma tarteletezinha de ouriço aí?

O chef Magnus Nilsson é gente que faz. A cada 10 minutos, mais ou menos, aparecia para finalizar algum prato à mesa, e explicar. Aqui, ele coloca um caldo de carne “filtrado através de musgo da floresta” sobre um “mexidão” de grãos e sementes dos arredores, temperados simplesmente com o que o menu explica ser “a big lump of butter”. Um nacão de manteiga. Revigorante, crocante, complexo, agradavelmente estranho.

Aí, finalmente, chegou a carne maturada. Nilsson é o rei da carne maturada. Envelhecida a seco em uma saleta especial do restaurante por até 7 meses! Naquela noite, era sirloin, que tinha sido maturado “apenas” 4 meses. Indescritível de tão bom. E servido COM a gordura, quase tão volumosa quanto a carne em si. Confesso: adoro comer bife com a gordura – finalmente, achei um restaurante onde não só pega bem fazê-lo, como recomenda-se!

Trazem a carne à mesa em pedaços inteiros, depois partidos ao meio e servidos, com couve.

Um jantar no Fäviken não é para os fracos. A horas tantas, o chef aparece com um osso enorme, que serra ao meio para extrair o tutano.

Aí mistura esse tutano com cubos de coração de vaca (cru) e folhas “que jamais viram a luz do dia”.

E ao lado, um belo de um pão tostado, sobre uma pedra.

De-li-ci-o-so!

Magnus usa leite e derivados em muitas coisas. A mais estranha delas? Esses wafers de…. colostro de vaca!

No sorvete de beterraba e blackcurrant vai mais um pouco daquele leite maravilhoso…

E quem é que precisa de sorveteira elétrica quando se pode usar uma daquelas pré-históricas, com manivela? 😉

Sorbet de leite azedo, geleia de framboesa, gemada de pato. Nham. Melhor sobremesa da noite! Geladinha, espumosa, pouco doce…

E dá-lhe gema: aqui de novo, em crosta de açúcar, sobre migalhas de… pão de tronco. Não me perguntem – as migalhas não tinham sabor marcante, serviam para dar crocância.

Não vou entendiá-los com uma descrição minuciosa das mignardises, mas basta dizer que de óbvias não tinham NADA. Umas gostosinhas, outras…… provocantes. Se é que me entendem….

Para acompanhar, uns licores igualmente indecifráveis/nada-familiares (um de ovo de pato), trazidos até nós em cesta de vime pelo gerente/maître/sommelier/faz-tudo Johan Agrell, um dos melhores funcionários de salão que já vi.

Resumo? Foi uma noite estranha, surreal, intensa em que provamos uma cozinha visceral, radicalmente presa à natureza, que por maluco que possa soar, me pareceu a maior homenagem que já se fez à cozinha das avós, das fazendeiras, das mulheres de outras gerações que sabiam cozinhar pratos de cabo a rabo e viam mais de perto a vida e a morte daquilo que levavam ao fogão. Como a Maria, da minha infância, que matava a galinha sobre a pia, uma mão no pescoço rugoso, outra no facão, para recolher o sangue que viraria o molho pardo do almoço.

O moderno, no Fäviken, é o modo como olham para o passado. Destrincham um bicho de cada vez, penduram certos pedaços para maturarem, assam e grelham outros em peças inteiras, com o osso, fazem compotas e conservas para guardar na cave, recebem os ovos do vizinho, assam o pão, etc. Uma cozinha em que o pré-preparo restringe-se ao mínimo, fazendo todo o resto só na hora do jantar. E pelo próprio chef, coisa cada vez mais rara. Que apresenta os pratos sem firulas, risquinhos, quadradinhos, espuminhas e quetais, deixando a comida falar mais alto do que a apresentação.

O ambiente, espécie de celeiro com aromas de lareira e luz baixa e velharias de fazenda ornando as paredes de madeira, sublinha a linha seguida pela cozinha: raiz, história, rusticidade. Comemos os aperitivos em um salão com peles e uma grande lareira e depois subimos larga escada de tábuas rangentes para terminar em um sótão dramaticamente desnudo, poucos feixes de luz a iluminar charcuteries que pendem do teto, feitas, claro, ali mesmo.

Mas chega. Isso aqui já está virando um post-livro. E dificilmente palavras pintariam um fiel retrato do que vi e vivi ali. Uma das experiências gastronômicas mais fortes e memoráveis da minha vida.

E mais sobre a Suécia e o restaurante Fäviken:

  • Jantar no premiado Frantzén/Lindeberg, em Estocolmo: vale 1220 reais?
  • Magnus Nilsson extrai sabores de alimentos envelhecidos
  • Magnus Nilsson, menino-prodígio da Suécia, lança livro sobre o Fäviken
  • Magnus Nilsson e a barreira entre o comestível e o podre – coluna no COMIDA
  • As deliciosas manteigas suecas
  • Quem tem os melhores cachorros-quentes, Estocolmo ou Nova York?
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A dieta da manteiga

Por Alexandra Forbes
06/02/13 16:13

Pão e manteiga do restaurante Fäviken, na Suécia

Confissão: gosto de comer manteiga como se fosse queijo. Quando é boa, não espalho uma fina camada no pão. Coloco logo um pedaço inteiro, para sentir bem o gosto.

Manteiga do hotel Ett Hem, em Estocolmo

Sabe quando perguntam  o que você pediria se estivesse preso em uma ilha deserta e pudesse comer uma coisa só? No meu caso, seria pão com manteiga.

Sempre achei a manteiga brasileira uma porcaria. Sem graça, sem gosto. Raramente como.

manteiga do restaurante Sture Hof, em Estocolmo

Se fosse generalizar, diria que países frios fazem manteiga melhor. E essa impressão só se fortaleceu nesta minha ida recente à Suécia. Não comi uma manteiga sequer que fosse apenas mediana. Todas excelentes! Algumas quase cor de gema de tão amarelas. Notava-se o sal bem presente, às vezes quase exageradamente. E sal do bom, dava para sentir.

manteiga do restaurante Gastrologik, em Estocolmo: quase salgada demais

Os restaurantes parecem saber disso: servem farta porção, geralmente sobre  uma pedra e à temperatura ambiente, com faca de madeira. Um convite à gula.

Resultado? Empanturrei-me!

Maravilhosos pão e manteiga do restaurante Frantzén/Lindeberg, em Estocolmo. Ambos feitos na hora, na frente do cliente!

Por mais que eu tenha adorado as manteigas suecas, até hoje a melhor manteiga da minha vida, que comi às colheradas, descontroladamente, encontrei no restaurante NOMA, em Copenhague.

Feita do creme do leite de vacas especiais, de raça rara, norueguesa, pelo produtor Patrick Johansson, apelidado de “Butter Viking”. Mas vejam só vocês: descobri a manteiga dele na Dinamarca, mas na verdade ele é sueco!

Aos interessados, eis um vídeo em que ele explica, no MAD Symposium,  evento do chef René Redzepi, o que sua manteiga tem de tão especial (ele fala de outros assuntos na primeira metade da palestra, comecem no minuto 17). Uma de muitas pérolas do “viking”: “bactérias lácteas são minhas amigas”.


vimeo Direkt

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Um jantar vale R$ 1.220?

Por Folha
06/02/13 03:00

Chegando ao final de um longuíssimo jantar no Frantzén/Lindeberg em Estocolmo

Nada como uma conta de R$ 1.220 por 13 pratos e cinco copos de vinho para fazer repensar o valor de um menu-degustação. Foi o que gastei, na semana passada, no Frantzén/Lindeberg, em Estocolmo, para me sujeitar a quatro horas de um sem fim de bocados elaboradíssimos, explicados pelo chef-proprietário, Björn Frantzén, em pessoa.

Chef Bjorn Frantzén, do Frantzén/Lindeberg, explicando porque seus lagostins são mantidos vivos até a hora de irem ao prato

É muito dinheiro. É muito tempo para passar sentada, comendo e bebendo. E é muita fé em uma equipe que nunca vi antes. Não pude escolher o que comer, tampouco me contaram qual seria a seleção de vinhos. Para muitos, um investimento estúpido.

O menu-degustação do Frantzén/Lindeberg, com minhas anotações

Neste mês, a “Vanity Fair” publicou controvertida reportagem sobre a “tirania” em restaurantes de chefs famosos onde, cada vez mais, é tudo (longuíssima sucessão de pratinhos “autorais”) ou nada. Diz o autor: “A reserva foi quase impossível de conseguir. A refeição irá custar centenas de dólares. O chef é um gênio culinário. Mas, na era do menu-degustação de 40 serviços que dura quatro horas, há um ingrediente faltando: qualquer interesse no que (ou quanto) o cliente quer comer”.

Hoje, quanto mais ambicioso o chef, maior a chance de oferecer menu-degustação (no 41, de Albert Adrià, em Barcelona, são 41°; no Eleven Madison Park, em Nova York, 16), sem opção à la carte, cobrando caro.

Quem quer comer tanto? Apaixonados como eu, para quem esses jantares equivalem à apresentação do Coldplay ou do Bolshoi. Ninguém vai obrigado ou sem saber o que lhe espera: pelo espetáculo, paga quem quer (e no Alinea, em Chicago, é literalmente um ingresso que se compra).

Se tais menus existem –e continuam se alongando –há demanda.

A resposta para a pergunta que sempre me fazem (“mas compensa?!”) é simples. Em casos como o Frantzén/Lindeberg –comida muito boa, altos e baixos nos vinhos e certa frieza no serviço–, o ardido da conta marca a memória com mais força do que o resto. Mas quando acerta-se no alvo e tudo transcorre maravilhosamente, as horas voam, os pratos não pesam, flutuo de tão feliz. Aí, sim, vale cada centavo.


YouTube Direkt

Aqui, link para um vídeo em que o chef Björn Frantzén explica de onde vêm os lagostins que serve e porque os mantém vivos até a hora do serviço.

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Quem tem os melhores cachorros-quentes, Nova York ou Estocolmo?

Por Alexandra Forbes
30/01/13 01:12

Estou desde ontem em Estocolmo.

E, como sempre me acontece quando viajo, estou um pouco atordoada com a quantidade de coisas novas, caras novas, arquitetura nova. Isto aqui, embora lembre um pouco outras cidades nórdicas que conheço – Copenhague e Helsinki – é um planeta muito, muuuuuito diferente do paulistano.

 

livro Where Chefs Eat, da Phaidon

No avião, vim lendo um livro novo publicado pela Editora Phaidon chamado Where Chefs Eat, que é um guia que entrega exatamente o que diz seu título: a lista de restaurantes ao redor do mundo onde chefs gostam de comer. Por motivo óbvio, foquei nas páginas de Estocolmo.

E foi ali que aprendi que, segundo afirma o chef Magnus Nilsson (estrela em ascensão na cena gastronômica mundial), Estocolmo tem cachorros-quentes melhores do que os de Nova York. Nilsson deu o endereço da sua barraca favorita. E foi lá que resolvi jantar.

Depois de andar vinte minutos no frio, pisando em poças d’água e neve semi-derretida, cheguei faminta. O livro promete muito: “Alguns suecos diriam que a melhor barraca de hot dog fica em Estocolmo. Conhecida pelos locais como Bruno’s, (…) fica perto do famoso mercado de comidas finas Saluhall.”

Melhor do mundo? Acho que não. Mas era bom demais. Salsicha grelhada na hora. Pão com crosta bem crocante – nada daquele fofinho branquinho de porta de estádio.

Ao invés de ketchup, molho de tomate picante feito pelo dono, o tal Bruno. Sauerkraut. Mostarda da boa. Salsichas variam: há desde merguez a chorizo. Pedi, claro, a mais tradiça, sueca. E uma outra mais picante para comparar. Montam o sanduíche como se o pão fosse um bolso: tiram o miolo e vão enfiando tudo dentro. O ruim foi ter que comer de pé, na noite gelada. Atravessei a rua, sentei-me num boteco, pedi uma bela cerveja e ali comi. Feliz.

Östermalms Korvspecialist: Rua Nybrogatan, 57

 

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Quando crescer, quero ser como a Nina Horta

Por Alexandra Forbes
26/01/13 04:24

Quando crescer, quero escrever como a Nina Horta. Há texto de comida mais gostoso que o dela?

Quanto mais anos se passam mais constato que estilo de texto é como aquela sombra da qual o Peter Pan vivia tentando se livrar. Não desgruda!

Meu estilo é… mais ou menos como eu. Sério demais, Literal demais. E porque tanta seriedade, se no dia-a-dia me acham tão engraçada? Nem eu sei.

O que sei é que mesmo antes do longínquo ano de 1997, quando convidei Nina para provar um risoto que fiz seguindo receita do chef Luciano Boseggia (tarde tragicômica, que narrei na coluna que aparece acima…) faço inúteis esforços para ter a mesma graça dela. Nina tem pequenas sacadas. Palavras certas, nos lugares e nos momentos certos. Frases que cantam.

Um dia, quem sabe?

Leio assiduamente a revista New Yorker – não há resenhas de restaurantes melhores no mundo – e sempre, no fim da leitura, digo pra mim mesma que aquilo sim, é saber escrever (um pequeno parêntese, dirigido à Nina: SIM, tem gente com tempo e paciência para ler a revista de cabo a rabo a cada semana! Incluo-me entre os loucos…).

Que humor fino, que talento para descrever à perfeição, em três ou quatro parágrafos, e sem fotos como muleta, um restaurante. São retratos perfeitos. E ainda acham, naquele pequeno espaço, uma linha ou duas para fazer uma graça que acrescenta ao que se está tentando descrever.

Como diria um antigo chefe meu, o Paulo, “a gente tem que estudar os benchmarks”. A New Yorker é e sempre será o meu benchmark, mesmo que eu ache que em português faltam aquelas expressões deliciosas do inglês, aquela liberdade para inventar palavras que fazem sentido de imediato, recém-nascidas. Nunca teremos uma New Yorker, ou uma resenha de restaurante que chegue aos pés do que eles fazem.

Nos textos da Nina, entretanto, encontro um pouco daquilo que busco na New Yorker, que por falta de palavra melhor em português eu chamaria de… wit. E humor. Ontem mesmo, tarde da noite, lendo o blog dela, eu ria sozinha. Riso solto, gostoso, de quem saboreia cada linha.

Ô, Deus, porque não nasci engraçada assim?

 

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Chez Sardine, restaurante da moda em Nova York

Por Alexandra Forbes
23/01/13 04:02

Sushi de carne crua com uni do Chez Sardine, em Nova York

A gente sabe que tudo o que posta nas mídias sociais se espalha. Coisas mais, coisas menos.

Mas de vez em quando, quem resiste, né?

Fotinho do cachorro, do papagaio, da filha…. Tweet xingando o juiz do jogo do domingo ou o restaurante que cobrou a mais na conta….

Confesso: mesmo sabendo que não deveria, viciada que sou no Twitter, dou lá minhas desabafadas, às vezes mais sinceras do que o recomendável.

Faço isso principalmente quando estou comendo fora. Parte para desabafar mesmo, parte porque acho que as pessoas querem ouvir minha opinião sincera. Aperto o enter meio sem refletir muito, nem saber quem é que vai ler.

Pois bem.

Ontem mandei um email para o restaurante Chez Sardine, em Nova York – super na moda, super elogiado – pedindo uma foto de divulgação. “Quero incluir vocês em uma matéria”, escrevi.

Responde o dono,  Gabriel Stulman, muito gentil. Como vai você, blablabla, que bom que quer incluir meu restaurante na matéria.

Aí, solta um:

“Mas, no entanto, estou confuso. Eu li isso aqui que você postou no Twitter  e aparentemente você não gostou do restaurante e achou “overrrated”. O que fez você mudar de ideia?”

Junto vinha a imagem de um tweet meu que não era dos mais simpáticos, digamos.

Nele eu dizia que o sushi era ótimo e o resto bem normal, e o lugar, barulhento e “overrated”, superestimado.

Er… veja bem…

E lá fui eu explicar que eu não sou o cliente típico de lugar nenhum. Eu sou um bicho estranho que gosta de comer em ambiente relativamente silencioso, que dispensa badalo. E que, de fato, embora os sushis estivessem incríveis, os pratos tinham me deixado meio desapontada, porque eu vinha lendo altos elogios a eles na imprensa novaiorquina e nas mídias sociais. Era tudo bom (ou quase, em um caso de exagero no sal) mas faltava um quê a mais.

Overrated é algo relativo.

Se você vai à biboca da esquina esperando x e eles te dão xxx, por medíocre que seja a biboca você vai sair achando bom.  Se você vai ao Fasano e não come como um imperador, vai embora reclamando – porque do Fasano espera-se muito.

Enfim: só para dizer que é importante a gente saber que opiniões postadas têm consequências, são ouvidas (e não só as dos jornalistas, as de todos).

E precisam ser bem pensadas.

A gente recebe esse tipo de feedback, como o do dono do Chez Sardine, raramente, mas isso não quer dizer que comentários positivos ou negativos de restaurante a,b ou c não sejam lidos e relidos e xingados ou criticados (ou até elogiados) pelos donos dos estabelecimentos em questão.

O Twitter é um perigo. Mas em contrapartida, serve para a gente sempre se lembrar de pensar muito bem antes de falar dos outros.

 

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Ave, salada caesar!

Por Folha
23/01/13 03:00

Salada caesar de brócolis, do M.Wells Dinette, soterrada por “nevasca” de parmesão finamente ralado

Há certos ingredientes que nasceram para andar de mãos dadas. Romeu e Julieta: há coisa melhor do que Catupiry com goiabada? Casamentos felizes viram clássicos, replicados e reinterpretados à exaustão: ovo de gema mole, massa fresca e trufas; bife e fritas…

Duvido que haja prato americano mais famoso do que a salada caesar: quase centenária, tem página própria na Wikipedia e aparece em praticamente qualquer lugar dos Estados Unidos, da biboca na Disney ao templo de luxo em Las Vegas.

Firmes e rugosas folhas de alface romana fazem brilhar cinco sabores fortes (anchova, bacon, parmesão, gema, limão). Croutons emprestam crocância. Bem-feita, a invenção de Caesar Cardini, que emigrou da Itália para a Califórnia, é das coisas mais gostosas da vida.

Sempre houve uma infinidade de maneiras de servir uma caesar. Parmesão ralado ou em longas lascas? Anchova incorporada ao molho ou deitada no topo? Alface em folhas inteiras? Ultimamente, em Nova York, chefs jovens andam mexendo com a receita de modo mais extremo.

Salada caesar de couve, no restaurante Isa

Deparei-me com a dita cuja em menus quatro vezes seguidas, todas substituindo a alface por outra verdura. No Isa, no Brooklyn, devorei uma versão bem encorpada feita com couve crua (verdura “du jour” nos EUA, aliás) e torradinha fina.

Em almoço no fervidíssimo M. Wells Dinette, dentro do museu MoMA PS1, pedi uma caesar de brócolis. Veio à mesa soterrada por uma montanha de parmesão ralado fino como neve, temperada com molho de sabor nitidamente caesariano.

Salada caesar de couve de Bruxelas no Roberta’s

À noite, no igualmente badalado Roberta’s, no Brooklyn, escolhi a salada “couve de bruxelas, ovo, pancetta, buttermilk” sabendo que seria uma caesar disfarçada, mais para prato do que para salada. A gema do ovo, meio mole, roubou o show.

Salada caesar de salsão do Rosemary’s

A última caesar que provei, no Rosemary’s, pendia para o outro oposto do espectro: levinha, ultracrocante e bem limonada, tinha como base, ao invés de alface, salsão em fiapos.

Quem diria que em seis dias em Nova York comeria cinco caesars! Há modas que vêm para o bem.

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Chef Danny Bowien e seu Mission Chinese Food, em Nova York, explodem em cena

Por Alexandra Forbes
22/01/13 22:33

Ontem falei de um programa de tevê ao vivo, do Jamie Oliver, e hoje volto a falar do assunto vídeo.

É que eu me encantei por um curta que assisti ontem sobre o Danny Bowien, um americano de descendência chinesa que está bombando em Nova York. Ele fez um restauranteco em San Franciso, bem simplezinho, que explodiu em cena. Aí, replicou a fórmula “sino-autoral” em uma filial novaiorquina e BAM! – começou a sair em tudo o que é site e revista. Atualmente, está mais em Nova York do que em San Francisco, porque a
“filial” acabou ficando mais importante do que o Mission Chinese original onde tudo começou, e demandando mais tempo e atenção.

Comi no Mission Chinese uns 10 dias atrás. E como comi!

Aí, entendi o hype. Ele está fazendo algo novo, quebrando a velha fórmula do restaurante chinês simples. Em suas receitas, vem injetando um pouco do americanismo de sua criação, um pouco de imaginação e muito do que observa por onde anda e por onde come. O Mission Chinese é a mistureba que resulta disso, em um ambiente propositalmente esculachado.

Enfim, este vídeo, em inglês, conta o resto da história. Acho que vão gostar.

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