Entramos no mapa. E daí?
19/11/14 02:00Outro dia, encontraram-se por acaso no Mocotó dois dos maiores chefs do mundo: o francês Michel Bras, do restaurante homônimo, e o espanhol Joan Roca, do El Celler de Can Roca, número dois do mundo no ranking da revista “Restaurant”.
Vieram para passar três dias. Para discutir os rumos da gastronomia e o papel dos chefs, convidados por Alex Atala. Estiveram nesse encontro em São Paulo outros nomões, como o catalão Ferran Adrià, do extinto El Bulli.
Em outubro, o famoso chef espanhol Carles Abellan, ex-El Bulli e dono de uma série de restaurantes, inclusive o Tapas24 de Barcelona, veio a São Paulo para prestigiar a festa dos proprietários do Bar da Dona Onça e comer fora. Dia 11, Daniel Burns, do Luksus em Nova York, ex-Noma e Momofuku, cozinhou no restaurante Epice.
Em dezembro, irá cozinhar no Lasai, no Rio, Andoni Aduriz, cujo Mugaritz está em sexto lugar no ranking dos 50 melhores. E, em março, outro espanhol do primeiro time, Quique Dacosta, fará um jantar beneficente num casarão no Morumbi.
Chefs importantes sempre vieram ao Brasil, mas nunca tantos assim. Não é coincidência. Entramos no cenário internacional, e estrangeiros ou já conhecem os principais restaurantes daqui ou já leram sobre eles e querem conhecê-los.
As centenas de reportagens em revistas de fora explicam parte do fenômeno. Mas também há uma nova geração de chefs brasileiros que ou morou fora e trabalhou em restaurantes estrelados ou interagiu com eles pelas redes sociais ou em jantares.
“E daí?”, o leitor deve estar se perguntando. E daí que é bom, para um país que lá fora associam a crime, samba, corrupção e mulatas, começar a ser conhecido, pouquinho a pouquinho, por ter boa cozinha e restaurantes-desejo.
Os governos do Peru e do México investem pesado na promoção de sua gastronomia, por saberem o quanto pode melhorar a imagem de um país e, por consequência, trazer turismo e dólares.
Por sorte, sem esse mesmo respaldo, estamos entrando no mapa. Finalmente.