Reservas viraram negócio
27/08/14 02:00Voltei ontem de Copenhague, onde reuniram-se por quatro dias muitos dos maiores críticos gastronômicos, cozinheiros, doceiros, baristas e restaurateurs do mundo, no evento gastronômico MAD, organizado pelo chef-proprietário do Noma, René Redzepi. Gente graúda. E gente que gosta de comer bem.
Copenhague tem uma proporção muito alta de bons restaurantes per capita, mas, mesmo assim, são pequenos e não somam mais do que 12. Lei da oferta e da procura: faltou mesa nos lugares mais concorridos para os cerca de 700 forasteiros que baixaram na cidade de uma vez nos últimos dias.
Reserva no Noma –o número 1 na lista dos melhores do mundo da revista “Restaurant”– valia mais do que ingresso para a final da Copa, com a diferença que não dava para pagar um cambista e levar.
Talvez em um futuro próximo dê… O chef Grant Achatz, de Chicago, instituiu um sistema pela internet em que vende ingressos que valem jantares em seus premiadíssimos Alinea e Next (cobrando o preço do menu-degustação).
De cara, cambistas começaram a revender os ingressos em sites como www.craigslist.com, cobrando muito mais. Mau para o cliente, mas ótimo para os restaurantes, que poupam o salário de uma telefonista e evitam reservas canceladas de última hora que sempre dão prejuízo. O software funciona tão bem que agora está sendo revendido pelo sócio de Achatz para outros restaurantes. A moda vai pegar.
Fica fácil ridicularizar o processo. Jornalistas e cozinheiros debatendo-se por uma reserva no Noma? Chefs que vendem ingressos para o “espetáculo” que servem em forma de longa sucessão de pratinhos?
Mas seria hipocrisia fazer pouco de um esporte que pratico com tanto afinco. Ainda não cheguei a comprar mesa de cambista, mas já batalhei dois anos contra um site irritante até conseguir meu banquinho no balcão do nova-iorquino Momofuku Ko (uma decepção!) e mexi meus pauzinhos para ter o prazer de comer em lugares de sonho como El Celler de Can Roca e 41 Grados (ambos na Espanha). O jogo é jogado…