Não é para qualquer um
13/08/14 02:00Estreia nesta quinta-feira (14) nos cinemas o filme “Chef”, que já vem fazendo barulho nos Estados Unidos. Conta a história de um chef frustrado cujo patrão não o deixa cozinhar o que quer, exigindo manter um menu de velhos hits, como petit gâteau de chocolate.
O chef a tantas horas explode, pede as contas e toma coragem de fazer a cozinha autoral com a qual sonhava. Ele compra um “food truck” e resolve servir comida de rua.
A premissa do filme é: chef que cozinha o que o patrão manda é infeliz. Chef que faz cozinha autoral é feliz. Hollywood sempre transforma mil tons de cinza em branco e preto. Primeiro: não há nada de autoral no menu do “truck”, que inclui medianoche (um sanduíche típico de Cuba que leva porco, picles, mostarda e queijo) e barbecue à moda texana. Segundo: chefs não deveriam precisar reinventar a roda para serem felizes.
O chef paulistano Benny Novak serviu as comidas do filme em uma avant-première em cinema de luxo. Em seus restaurantes Ici Bistrô e Tappo Trattoria estrelam clássicos como steak tartare e espaguete à carbonara. “Não me faz falta nenhuma criar pratos, estou muito afirmado”, diz. “Canso de ver menus autorais intragáveis. Não desdenho quem faz, mas não preciso desconstruir uma galinha do avesso.”
O conceito da cozinha autoral anda supervalorizado, em parte por culpa de rankings que endeusam os criativos e desdenham os que reproduzem a tradição.
Dos restaurantes que servem de palco para seus chefs-proprietários exibirem sua criatividade, alguns são excelentes, outros, péssimos.
O filme alimenta o mito de que um chef que cria receitas próprias vale mais do que um que executa pratos bolados por outrem.
É a crescente abundância de chefs que precisam criar para se sentirem realizados —muitos sem talento para tanto— que explica a multiplicação dos menus-degustação que não valem o que custam.