Quem é ‘Maria vai com as listas’?
07/05/14 02:02Muito se falou e se escreveu sobre o anúncio, semana passada, do ranking dos 50 melhores restaurantes do mundo. Ano vai, ano vem, ouço as mesmas reclamações. “Essa lista não tem sentido!”, ou “Até parece que o Noma é o melhor restaurante do mundo!”, ou “Aposto que os votos são manipulados”.
Cansei de gastar saliva explicando o processo de apuração dos votos dos mais de 900 jurados (entre os quais eu me incluo) —mas não vem ao caso.
O que me espanta é que alguém acredite que pudesse, mesmo, existir uma maneira de ranquear restaurantes em ordem decrescente de qualidade, de um a 50.
Como se o fato de o D.O.M. ter descido da sexta à sétima posição neste ano significasse que o restaurante ficou um pouquinho menos bom no espaço de um ano. Ou que a vertiginosa ascensão do Central, em Lima (subiu 35 lugares e terminou em 15º este ano) se traduzisse em um assombroso salto em excelência.
Os dois restaurantes, como a maioria dos outros no ranking, pouco mudaram em 12 meses. O que mudou foi a direção do vento. A lista dos 50 melhores nada mais é do que um termômetro que indica o que está na moda e quais chefs andam em maior evidência. Dias antes do anúncio, postei no Instagram uma previsão: Maní, Central e Tickets, de Albert Adrià (em Barcelona), subiriam. Dito e feito. Não precisei de bola de cristal, bastou prestar atenção ao noticiário: nunca escreveu-se tanto e tão elogiosamente sobre os três chefs-proprietários.
Isso inutiliza a lista? Claro que não: o mero fato de um restaurante estar entre os 50 serve de certificado de excelência. Mas querer jantar no Noma —que voltou à primeira posição— e lá ter uma experiência transcendental, a “melhor do mundo”, é pedir para ser decepcionado.
Na hora de planejar onde comer em viagens, mais valem os conselhos de amigos com gostos e orçamentos parecidos, de um crítico gastronômico ou de um blogueiro com que se tenha afinidade. Seria tolice tomar o ranking dos 50 melhores como uma verdade absoluta, quando nem meia verdade é.