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Alexandra Forbes

A gourmet itinerante

Perfil Alexandra Forbes divide seu tempo entre Montreal, São Paulo e restaurantes pelo mundo afora.

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Finalmente, bons queijos no Brasil?

Por Alexandra Forbes
22/09/13 15:17

Vila Viniteca, em Barcelona: uma das melhores lojas de vinhos e queijos da Espanha

Nunca entendi muito bem porque quase não existe queijo bom no Brasil. Sei que o calor não ajuda, mas temos muitas regiões montanhosas e mais frias do que a média, onde produzimos, entre muitas outras coisas boas, café de primeira.

Antes que venham me apedrejar, já vou dizendo que sei que há bons queijos nas serras mineiras, a começar pelo famoso queijo da Serra da Canastra, mas para um país do tamanho do nosso, é pouco queijo bom, artesanal, e muito queijo ruim, sem gosto, industrializado.

O que mais se vê, nos supermercados, são aquelas borrachas amareladas “tipo Brie” ou “tipo Camembert”, queijos Minas sem graça e queijos comuns para fazer sanduíche para por na lancheira dos filhos.

Simplesmente não temos o hábito de comer bons queijos. Raros são os restaurantes que oferecem o serviço de queijos (palmas para o Fasano, cujo carrinho de queijos melhorou muito ultimamente). E como a maioria sabe pouco e liga pouco, não existe demanda por um produto de primeira.

Por isso fiquei animadíssima com a chegada do “Mestre Queijeiro”, um site que vende queijos artesanais brasileiros. Muitos são inspirados em queijos famosos europeus, o que é normal. Mas, feitos de leite nacional e em terras brasileiras adquirem, naturalmente, características de seu terroir.Exemplo: um queijo de cabra em formato de pirâmide inspirado no Valençay, chamado Pirâmide do Bosque.

Quem toca o negócio é Bruno Cabral, que trabalhou por três anos em uma das melhores queijarias da Espanha, a Vila Viniteca em Barcelona, que eu adoro.

queijos à venda na Vila Viniteca, em Barcelona

Outra boa nova foi a inauguração da loja A Queijaria na Vila Madalena. Segundo o Guia da Folha, “No pequeno espaço são encontradas cerca de 70 variedade de queijos, garimpadas com pequenos produtores em Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul e Pernambuco.”

Espero que o trabalho do Bruno e d’A Queijaria ajude a abrir a cabeça dos brasileiros.

Poderá tomar tempo, já que os melhores queijos muitas vezes são gostos adquiridos e podem parecer repugnantes.

Eu como queijos tão mofados e malcheirosos que, disse-me certa vez meu ex-sogro à mesa de finíssimo restaurante, “parece que um cano de esgoto estourou ao lado”. Os favoritos? Os franceses Epoisses, Langres e Fourme d’Ambert – o primeiro tem notas de meia suada guardada em vestiário e o último, de cocheira de cavalos.  Outro favorito é o Comté, de aparência e aroma mais palatáveis ao não-iniciado.

 


Queijo é um troço hard-core, se formos pensar bem. Já começa pelo modo de fazer. Talha-se leite com ajuda de coalho, essencialmente a enzima retirada das tripas de novilhos ou cabritos. Descarta-se o soro e, no mingau azedo que resulta, deixa-se milhares de bactérias refestelando-se, consumindo seus açúcares transformando-o de algo repugnante a delicioso.

Assim define o dicionário Houaiss a palavra podre: “1. que se encontra em estado de decomposição; deteriorado  2 que cheira mal; fétido, infecto”.  Nada disso significa, necessariamente, que algo podre não seja bom de comer. O que separa o comestível do putrefato, afinal, é nosso gosto pessoal, influenciado por padrões culturais. O tubarão fermentado tão apreciado na Islândia causaria ojeriza a um brasileiro. A fruta não passa por meros três estágios – verde, madura e podre – mas sim uma miríade de estágios, cada qual com suas características de textura e sabor. Banana boa de fazer doce já tem casca preta e cara de estragada. Alimentos são vivos e vão se metamorfoseando a cada dia graças a bactérias, fungos e enzimas.

 

O queijo está longe de ser a única iguaria a flertar com o pútrido. Há milênios os asiáticos têm entre seus alimentos preferidos aqueles de sabor forte, fermentados e/ou envelhecidos, como o shoyu japonês, o potente molho de peixe da Tailândia e do Vietnã e o kimchi, prato típico coreano feito de legumes temperados e fermentados. Aceto balsâmico não passa de mosto de uva cozido e fermentado longamente, exposto ao ar e bactérias.

Eu tenho tendência a gostar de tudo o que passou um tempo “curtindo” e sendo transformado por bactérias, mas sei que no Brasil sou minoria. Mas quem sabe, com a chegada ao mercado de mais lojas de queijos, amplie-se o conhecimento e aumente-se a demanda.

Para os poucos bravos que buscam fazer queijos artesanais no Brasil, seria a salvação. E para gulosos como eu, motivo para festejar.

 

p.s. Voltando a falar da Vila Viniteca, recomendo uma visita vivamente a quem estiver planejando ir a Barcelona. Eu comprei queijos e presuntos para comer no quarto do hotel, mas eles servem pratos de queijos e frios na própria loja também. Há boa oferta de vinhos em taça.
VILA VINITECA – rua Agullers 9. Barcelona
Tel +34 933 101 956
teca@vilaviniteca.es
Horario:
2a a sábado de 8:30 a 20:30 horas

Vila Viniteca, em Barcelona

 

About Alexandra Forbes

Alexandra Forbes, autora do livro Jantares da Mesa e Cama, é crítica gastronômica e jurada do ranking The World's 50 Best Restaurants. Além de colunista do caderno COMIDA, da Folha de São Paulo, escreve para revistas nacionais e internacionais, como GQ Brasil, Casa Vogue e Food & Wine. Divide seu tempo entre Montreal, São Paulo e restaurantes pelo mundo afora. Suas aventuras gastronômicas podem ser acompanhadas também pelo Twitter (@aleforbes).
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