A morte da galinha e o simpósio MAD em Copenhague: chef Alex Atala rouba as atenções
28/08/13 05:04
Qualquer um que me siga no Twitter ou no Instagram (@aleforbes) já está careca de saber: vim a Copenhague para participar do curioso e atípico simpósio de gastronomia chamado MAD (palavra que significa comida em dinamarquês).
Hoje, há matéria minha sobre o MAD no caderno COMIDA, está online neste link. Também escrevi um curto texto contando como foi a sessão perguntas-e-respostas com o chef Alain Ducasse, em que David Chang e René Redzepi foram os entrevistadores. Aqui, o link.
Mais de vinte pessoas se apresentaram, de um historiador negro americano a um cientista suíço (lista completa aqui). Poucos causaram ondas. Poucos deram o que falar. Entre esses poucos está Alex Atala.
Ele mesmo já sabia que sua apresentação seria impactante, tinha me dito isso uns dias atrás. E não apenas porque ele terminou matando uma galinha na frente de todos, primeiro torcendo seu pescoço e depois, com as asas ainda batendo, degolando-a com um facão. A apresentação surpreendeu a plateia porque Atala praticamente não disse nada. Mostrou vídeos curtos alternando bichos sendo cortados, sangue pingando e escorrendo, florestas devassadas e lindos pratos do D.O.M. A mensagem: a gente tem que matar o bicho para poder fritar o bife. A gente tem que pensar nessa morte, e pensar de onde vem esse bicho quando come.
Só para garantir que o recado seria entendido, Atala pediu a seu amigo – e organizador do simpósio – René Redzepi, do NOMA, que lesse textos (em inglês) conforme os vídeos iam passando. Os textos sublinhavam as mesmas questões: “pense antes de comer”, “os lugares de onde vêm os bichos que comemos não são fontes inesgotáveis” e assim por diante.Teria tido mais sentido se ele próprio declamasse aquelas frases, mas Redzepi é bom orador e passou o recado.
No final, como que para forçar as pessoas a refletirem sobre sua responsabilidade dentro da cadeia alimentar (se não comêssemos carne, nenhuma vaca morreria para virar bife), Atala fez uma enquete silenciosa. Usou apenas o polegar, como um gladiador romano, e perguntou à plateia: “mato ou não mato”? Uns gritaram “kill!”, outros “die!” e, no final, como se previa, a galinha estrepou-se. Atala saiu do palco com ela nos braços, já decapitada, sangue escorrendo por suas tatuagens.
Atala mandou imprimir camisetas negras com o dizer “Death Happens” (a morte acontece) e distribuiu-as aos chefs na plateia.
Há chefs favoritos de público. E há chefs favoritos dos chefs. Atala é as duas coisas, mas sempre me impressiono ao ver até que ponto os seus colegas o idolatram, a começar por Redzepi e David Chang (o americano dono do Momofuku Ko e dos outros Momofukus ao redor do mundo).
Acham tudo o que ele faz bacana. Têm uma imagem de Atala como um sujeito exótico, másculo e cool. Por isso, em seguida à apresentação – que serviu para cimentar essa imagem ainda mais – começaram a surgir montes de fotos do chef no Instagram e no Twitter, mencionando a apresentação, o dizer estampado na camiseta, e a galinha. Nem Redzepi foi tão fotografado!
O açougueiro toscano Dario Cecchini “causou” ao abrir o MAD. Mas Atala “causou” ainda mais ao encerrá-lo.
E a seguir, algumas das fotos que tirei no MAD…