Para os fortes, não há crise
21/08/13 03:00Este jornal publicou recentemente reportagem sobre como está mais caro comer fora, mas que mesmo assim “a maioria dos paulistanos (…) não deixou de ir a restaurantes nos últimos seis meses”.
Acabo de passar cinco semanas em São Paulo —comendo fora quase toda noite— e ouvi falar o tempo todo da controvérsia dos preços altos. Comparações com Nova York e Londres, pesquisas, restaurateurs defendendo-se nos jornais e amigos reclamando de contas altas.
Cansei do assunto, mas antes de varrê-lo para longe, pergunto: não estaríamos testemunhando a lei de Darwin se impondo? A questão resume-se assim: os restaurantes, por motivos variados, aumentaram os preços e com isso —além de outros fatores como a nascente recessão e os arrastões— muitos esvaziaram-se. Mas como explicar que tantos outros continuem cheíssimos?
Fui ao japonês Ohka, no Itaim, em uma segunda-feira (conta de R$ 300 por pessoa). Caro? Sim, mas tinha espera. Jantei no (também caro) Fasano na noite seguinte: lotado! Testemunhei salões cheios também no Maní, no Attimo, no Piselli, no Tappo Trattoria, no Parigi, no 348, no Gero, no Dalva e Dito e no D.O.M. —mesmo em julho, mês de férias.
Também vi restaurantes às moscas: Fisherman’s Table, Nakka e Gusto, todos no Itaim —só para citar alguns. Culpa dos preços? Não acho. Simplesmente, não acertaram no alvo, não acharam clientela, fizeram algo errado.
Quando os tempos estão bicudos como agora, o paulistano que tem dinheiro no banco não para de sair para jantar fora: apenas não arrisca cair em roubada.
Estou falando de um microcosmo, é claro: restaurantes relativamente caros, do eixo Itaim-Jardins, frequentados por um público rico que de modo geral tarda mais a ser afetado por crises financeiras. Mas dentro desse microcosmo está claro: os perdedores estão sentindo o baque enquanto para os queridos do público não há temporal à vista —muito pelo contrário. Os fortes sobreviverão, como Darwin já dizia.