Um passo a frente, dois atrás?
12/06/13 02:08
Moro em Montreal, embora acompanhe o que se passa em São Paulo com a sede de uma expatriada saudosa. Venho seguindo de perto o noticiário sobre arrastões em restaurantes, cada vez mais alarmada.
Li neste jornal o tocante relato da chef Danielle Dahoui sobre o último assalto em massa, que aconteceu há duas semanas em seu restaurante Ruella, no Itaim.
Não só me compadeci dela e das vítimas como lamentei: com isso a imagem cada vez mais difundida da São Paulo meca gourmet sai gravemente arranhada.
Sim, porque de repente a cidade virou destino gastronômico dos sonhos para gourmets viajantes.
Já perdi a conta de quantos estrangeiros vieram me narrar -ou postaram no Instagram- noites felizes no Mocotó ou no Maní.
Saem cada vez mais reportagens elogiando chefs de São Paulo em mídias de prestígio. A última, mês passado no jornal inglês “Guardian”, diz que há algo muito bacana rolando com a “nova cozinha brasileira”.
O arrastão no restaurante Ruella, no Itaim, dia 30 de maio, virou notícia no espanhol El País: “Ir a um restaurante no Brasil começa a dar medo”. Tenho ouvido muitos norte-americanos, recentemente, dizendo coisas do tipo “gostaria de conhecer o Brasil mas não me arrisco”.
Em São Paulo, principalmente, há um novo Brasil gastronômico querendo se mostrar ao mundo. Sinto os chefs paulistanos sedentos por serem incluídos no circuito gastronômico internacional.
O momento é esse, há vários buscando fazer melhor, com ingredientes melhores e ideias melhores. Mas para cada gol que fazem em termos de imagem -de palestras inspiradoras em congressos internacionais a novos restaurantes com naipe para competir com os melhores de outras capitais- tomam dois.
O primeiro, os arrastões em si. O segundo, as reportagens negativas que seguem, espalhando o medo.
A saída é agir. E o panelaço sendo organizado por Dahoui para protestar contra os arrastões é um passo a se aplaudir.