Jantando no novo Esquina Mocotó do chef Rodrigo Oliveira
21/05/13 13:21Eu digo sempre que tenho a sorte de ter, como leitores, gente muito bacana. Sei porque recebo emails gentilíssimos mas, principalmente, porque ao longo desses muitos anos de estrada fui conhecendo alguns e tornando-me amiga deles. Desde que armei um primeiro encontro de “apresentação”, no Astor, forjaram-se amizades e o grupo, além de um interesse comum por comes, bebes e boa vida, passou a ter até nome: LBV, ou Legião da Boa Vida.
Pois esse encontro foi em 2008, como bem me lembrou uma confrade que prefere ficar anônima.
E na quinta-feira passada, celebramos meia década dessa brincadeira em grandíssimo estilo, com um jantar de pre-estreia do restaurante Esquina Mocotó, do chef Rodrigo Oliveira.
Saímos todos juntos, do hotel Fasano, em carros com motorista para podermos beber sem culpa. 😉
Jô Elias, uma das confrades, arrumou para o encontro um patrocínio do celular Lumia 920 da Nokia. Por isso o grupo cresceu: éramos mais de 30!
Convidei leitores novos e gente que tem a mesma obssessão que eu por comida boa e vinho bom. Uns, eu jamais tinha visto na vida mas conhecia da internet (seguidora fiel de seus posts). Outros são velhos amigos e colegas de mundinho gastronômico.
E lá fomos nós, em comboio, até a Vila Medeiros, uns com vinhões debaixo do braço outros com gim ou cachaça na bolsa. Gente que não brinca em serviço…
E como passamos bem!
Mal percebemos a fina garota, tamanha a animação. Pelos comentários à chegada, todos gostaram muito do espaço, mais arrumado do que o Mocotó mas sem cara de lugar “chique”. Uma parede de madeira de demolição. Outra, ao fundo, com belíssimo painel pintado pelo grafiteiro Speto, de quem sou grande fã.
(Aqui, um parêntese: meu colega de FOLHA, o Marcelo Katsuki, fez um post mostrando tudo o que comemos naquela noite, aqui o link. Peço desculpas pela redundância…).
Voltando ao relato: logo ocupamos o mesão central, comunitário, de caipirinha e cerveja em mãos.
Abrimos a noite com fatias de pão caseiro (de fermentação natural), manteiga com gostinho de cumaru e tábuas de embutidos de nome engraçadinho: “porcaria”. Incluíam ótimos produtos como presunto cru da Terroá, de Catanduva. Tudo ótimo mas o que roubou a atenção, ofuscando o resto, foi o dadinho de tapioca com porco (primo-irmão dos famosos dadinhos do vizinho Mocotó). Que dúvida que pedimos para repetir?
Ah, e comemos também, obviamente, os dadinhos de tapioca e queijo coalho. Todo mundo que conhece sabe: como a propaganda diz, é impossível comer um só.
Em clima de feliz bagunça, fomos provando a sucessão de pratos.
Como eu já esperava, o Rodrigo não se importou em botar no menu coisas que podem espantar muita gente, como moela, tutano e jiló. Refestelamo-nos!
Esse ovo com jiló na foto acima… o jiló não era citado no menu, acho que para não assustar ninguém. 🙂
Verteram sobre o ovo caldo de legumes. Tinha uma das gemas de laranja mais profundo que já vi, com aquela textura densa e cremosa característica da cocção à vácuo. Quase parecia colar na boca. Para contrastar, a adstringência do jiló. Belo balanço.
Tutano, em especial, eu devorei com gosto. Tão difícil de achar em São Paulo…. Pois no Esquina ele vem no osso, mais trêmulo do que gelatina que sai do gelo antes da hora. O cliente tira com colherinha, salga ele mesmo e come com micro-cubinhos de língua em vinagrete.
O nhoque de mandioca (ou “nhoca”, como foi batizado) poderia ter causado estranheza se a plateia não fosse aventureira, já que tem textura mais pegajosa do que um nhoque clássico de batatas. E ao invés de um molho-que-agrade-a-gregos-e-troianos ele veio casado com tucupi e legumes bem nossos: jiló, quiabo… Delicado o sabor, e bem vivaz acidez.
O porco que encerrou os salgados era mais “fácil”: difícil achar quem não goste daquela carne bem temperadinha e macia (o porco, depois de marinado, passa nada menos do que 12 horas no forno!) sobre purê de grão de bico com alho confitado e cenoura.
Os dois doces que provamos, para mim, passaram com muita força o recado “isto aqui não é o Mocotó”. Já cansei de comer compotas bem adocicadas na casa-mãe, e sobremesas deliciosas porém adocicadas demais para meu gosto.
No Esquina, toma-se o caminho inverso, tirando o máximo possível do açúcar. Ganha-se elegância mas arrisca-se deixar pelo caminho aqueles com desejo de algo familiar para adoçar o bico.
Mas Rodrigo não parece querer fugir de riscos. A própria existência do Esquina Mocotó e a audácia de seu menu brasileiríssimo é a maior prova disso.
E se tem alguém que tem crédito e simpatia suficientes para bancar essa aposta em uma cozinha nordestina absolutamente nova e talvez difícil de ser compreendida por certos paladares, esse alguém chama-se Rodrigo Oliveira.
Esquina Mocotó – mapa aqui
Av. Nossa Senhora do Loreto, 1.108, V. Medeiros – Tel.: 0/xx/11/2949-7045