O papel não morre tão cedo
01/05/13 03:00Canso de ouvir que as pessoas querem cada vez mais ler coisas curtas, na internet, e só. Mas se o papel estivesse morto ou caminhando rumo à cova, não haveria tantos chefs escrevendo livros. E se poderíamos pensar que eles são ruins de conta e fazem isso pelo ego, editoras certamente vivem de lucro. Mas o que explica o investimento brutal sendo feito, neste ano, na publicação de um oceano de livros de culinária?
Domingo, fui ao lançamento, em Londres, do livro “Cook It Raw”, sobre encontros de chefs famosos em pontos escondidos e improváveis do planeta. Davam autógrafos vários pesos-pesados, como o italiano Massimo Bottura, o catalão Albert Adrià e Alex Atala.
Quem convidava era a Phaidon, a editora mais poderosa e prestigiosa que existe hoje na gastronomia. Não por acaso, a Phaidon tem o passe dos chefs-estrela René Redzepi, Magnus Nilsson e Ferran Adrià, e lançará, em setembro, o primeiro livro de Atala destinado ao mercado internacional.
Resolvi compilar uma lista de chefs famosos com livros recém-publicados ou prometidos para os próximos meses. Daniel Boulud! Anne-Sophie Pic! Carlo Mirachi, do restaurante nova-iorquino Roberta’s! Já estava no décimo nome quando me deparei com uma lista semelhante no site americano Eater com nada menos que 59 títulos. No Brasil, há tantos outros.
Espanha em crise? Pois três de seus maiores restaurantes estão imortalizando, nestes meses, suas receitas em volumes de luxo custando até € 85 (cerca de R$ 220): El Celler de Can Roca, Nerua e Azurmendi.
Quem paga? Aspirantes a chefs, cozinheiros de fim de semana e comilões que viajam o mundo para comer, chamados (às vezes, pejorativamente) de “foodies”. Se leem os textos ou se atrevem-se a testar as receitas, não sei: boa parte da graça está em simplesmente folhear o tijolão, admirar as fotos e usá-lo para decorar a sala (eu que o diga).
Não sei se chegará o dia em que um e-book valerá tanto quanto um lindo volume de capa dura e páginas enormes e lustrosas –mas duvido.