Chefs-estrela: vilões ou heróis?
17/04/13 03:00Estou de partida para Londres, onde reservei mesa na nova filial do popularíssimo Balthazar, de Nova York, que imita uma brasserie parisiense. Mas depois de assistir a um debate acalorado no simpósio Terroir em Toronto, dias atrás, me perguntei se não seria uma ideia estúpida.
Para que comer “soupe à l’oignon” em Londres só porque a brasserie é do famoso restaurateur Keith McNally (Pastis, Minetta Tavern)? Em Londres, normalmente prefiro viver uma experiência londrina a provar cozinhas transplantadas de celebridades, como Alain Ducasse.
A crítica gastronômica canadense Lesley Chesterman questiona: “Para uma cidade tornar-se um destino gastronômico, não deveria ser por ter restaurantes que servem soberba cozinha local que você não acha em nenhum outro lugar? Ou basta ter restaurantes de chefs-estrela?”.
Debateu-se o tema no simpósio porque dois famosos de Nova York abriram há pouco filiais em Toronto. David Chang, dono da rede Momofuku, lançou no hotel Shangri-la um complexo com três restaurantes e um bar. Daniel Boulud, dono do Daniel, Bar Boulud e DBGB, abriu o Café Boulud no hotel Four Seasons.
Chesterman considera um insulto críticos locais dizerem que os dois estrangeiros puseram Toronto no mapa. “Os melhores restaurantes do mundo não são operações-satélite importadas de outro lugar”, diz. Em nome da autenticidade, eu gostaria de concordar. Mas muitas vezes os importados fazem o serviço melhor do que os locais.
Em Londres, onde há milhares de endereços deliciosos, ir atrás de um jantar de grife soa como tolice. Mas em Toronto só agora a cena gastronômica vem se enriquecendo.
Enquanto a cidade se descobre, pelas mãos de talentos como Lucas e Jacob Pearce (Ursa) e Damon Campbell (Bosk), Boulud e Chang preenchem, com eficácia, um espaço vago. Se acho certo? Não é uma questão branco-e-preto, sim-ou-não. Só sei que saí de meu jantar no “complexo Momofuku” de Toronto lambendo os beiços.
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