Em leilão na Sotheby's fundação El Bulli de Ferran Adrià fatura 1.8 milhões de dólares
03/04/13 10:47
Ontem a filial de Hong Kong da prestigiosa casa de leilões Sotheby’s leiloou parte dos vinhos da adega do extinto El Bulli, na Catalunha – quiçá o mais famoso retaurante que já houve, do igualmente famoso chef Ferran Adrià – faturando cerca de US$ 1.8 milhões, segundo o site de notícias gastronômicas espanhol 7 Caníbales.
O leilão, que arrastou-se por cerca de sete horas, incluiu não apenas lotes de vinhos mas também a oportunidade “ter uma conversa sobre gastronomia” com Adrià em seu Taller (laboratório), seguida de um jantar no restaurante que ele tem com seu irmão Albert, o Tickets, em Barcelona. Por quanto saiu? Cerca de US$ 28.5 mil!!! (Vai ser tiete assim lá longe….. )
Um dos lotes de vinhos franceses (10 garrafas) saiu por US$ 200 mil, enquanto três garrafas de Romanée Conti de 1990 foram arrematadas por US$ 69.000.
Dia 26 de abril a segunda parte do leilão acontecerá na Sotheby’s de Nova York e incluirá, além de mais vinhos, menus, cartas de vinhos e até um avental de Adrià.Vejam, no site oficial da Sotheby’s, a descrição dos lotes.
O objetivo dos dois leilões é arrecadar fundos para a El Bulli Foundation.
Desde que fechou o restaurante, Adrià vem prometendo que o mágico cenário em que se inseria – um parque selvagem à beira mar, na Catalunha – será reaproveitado como sede dessa El Bulli Foundation, uma espécie de think tank gastronômico.
Para transformar o antigo restaurante – uma casinha praiana de paredes caiadas de branco com pergolado e piso de lajotas – em fundação ultamoderna, Adrià escalou o catalão Enric Ruiz-Geli, de Figueres, dos poucos com loucura e audácia suficientes para a missão dar certo. Resultado: saíram de sua prancheta esboços absolutamente surreais de construções que se integraram organicamente aos verdes e cinzas da rústica paisagem.
A casa que abrigava o restaurante será mantida, apenas sofrendo reforma para torná-la “verde” e inteligente.
No mesmo terreno em declive será plantada uma estrutura em formato de meia-esfera (acima) com várias perfurações e duas protuberância que se parecem com uma trumpetas. Naquela oca de formas inspiradas em corais mortos, com pele externa verdejante e porosa e cheia de calosidades, funcionará o espaço de brainstorming.
A sala interna, onde Adrià e seus chefs discutirão receitas e técnicas e assistirão vídeos, terá formas arredondadas e irregulares e um recorte retangular enquadrando a vista para o mar.
Será construído também um Ideário – o espaço onde as pesquisas serão processadas, anotadas e arquivadas – terá um quê de caverna à beira-mar. Estantes encaracoladas se fundirão com mesas em círculo enquanto um teto claro e pendente cheio de reentrâncias encontrará o chão em forma de cortinas de vidro fluido, como água caindo.
Entrevistei Adrià ano passado sobre o tema. Acho que as respostas dele ainda valem hoje, vejam:
Você deu carta branca a Ruiz-Geli ou está dirigindo o projeto de perto?
Ele é um arquiteto experimental, perigoso e eu estou totalmene envolvido. A cozinha física do El Bulli, quando a construímos, marcou a história da arquitetura das cozinhas. Neste caso, nós nos perguntamos como seriam os espaços ideais para criar, dentro dos limites impostos pelo entorno e pelos requisitos de sustentabilidade.
Você diz que um dos motivos de ter topado se tornar o garoto-propaganda da Telefonica é poder ter acesso a ferramentas de conectividade e comunicação, que permitam, inclusive, postar online, diariamente, os resultados das experiências feitas na Fundação. Que forma, exatamente, terá essa colaboração?
Queremos que os interiores tenham tecnologia super de vanguarda, e nisso a Telefonica irá nos ajudar – mas que ninguém pense que eles estão pagando a obra!
Quem poderá visitar a Fundação?
Não será aberto ao público, apenas a cozinheiros, acadêmicos e alguns visitantes convidados. Confunde-se o consumidor com o mundo profissional. Pacientes não participam de congressos de medicina, certo?
O projeto arquitetônico parece único, iconoclasta, e deverá atrair muita atenção…
Nossa ideia não é atrair atenção, mas sim criar. Não queremos que vejam a Fundação como um projeto de arquitetura. É um think tank de cozinha. O resultado será bonito mas o mundo está cheio de boa arquitetura. O que interessa é o que se passará lá dentro, sua função como laboratório criativo.