O culto ao café de origem
20/03/13 03:00“Aqui a gente despreza o Starbucks”, disse Fiona Sweetman, que organiza um passeio guiado em Melbourne, na Austrália, chamado “a cultura de frequentar cafés”.
Ela se gaba de contar que a multinacional americana pretendia abrir mais de 20 filiais em sua cidade, mas voltou atrás ao notar ter perdido a batalha para os pequenos cafés locais, cuja fiel clientela aprecia grãos cuidadosamente escolhidos e torrados, principalmente “single origin” (de uma fazenda específica).
Seguindo sua dica, fui provar o ótimo Brother Baba Budan, local pouco maior do que um closet, onde jovens baristas compenetrados preparam cappuccinos e machiatti (ou um “pretinho” de coador fresquíssimo) para clientes esperando em pé. Em lousas, rabiscam os cafés do dia, com país de origem e notas de sabor, como se fossem vinhos. O BBB é um entre centenas de cafés dessa cidade.
A maior atração do Melbourne Food and Wine Festival, neste mês, foi a Fazenda de Café Urbana. Por esse pop-up feito de caixotes de importação de sacas e 125 pés de café, passaram mais de cem mil pessoas, para degustar “blends” e assistir a seminários como o “Volta ao Mundo em Oito Cafés”.
Em Melbourne e Sydney, vi um sem-fim de belas máquinas de expresso. Como em outras cidades onde o culto ao café explodiu, é mais fácil achar um expresso com belíssimo creme do que um latte de marca global.
“Temos imenso orgulho de nosso café”, diz Natalie O’Brien, CEO do festival de Melbourne. Ela não se refere à matéria-prima, mas de quão bem selecionam e torram os grãos, do capricho investido em cada xícara.
Quem diria que cafeterias premium emplacariam antes na Austrália do que no Brasil, maior exportador mundial. Avançamos nos últimos anos, mas lugares do nível de um Coffee Lab (SP) são raros.
Na Austrália, onde se usa até o termo “baristas caseiros”, o bacana é ter o trabalho de tirar um café à mão, de pó moído na hora e de origem controlada. Já no Brasil, ricos acham chique apertar um botão e servir um Nespresso quentinho.