A ascensão da dieta antiesnobe
26/12/12 03:00Ondas de comportamento migram do primeiro mundo ao Brasil com anos de atraso. Quando lá fora passaram a cobrar por sacos plásticos descartáveis em supermercados, nem se falava nisso por aqui.
O mesmo acontece com a guinada pró-orgânicos. O movimento começou a pegar embalo uns 20 anos atrás nos países mais ricos, onde já faz uma década que fazem sucesso feiras de orgânicos e mercados naturebas como o Whole Foods. Marcas de produtos orgânicos e a cozinha “farm-to-table” (da fazenda à mesa) caíram no “mainstream”.
No Brasil, só agora esse movimento vem tomando força. Isso, graças ao afinco de pequenos fazendeiros, a novas marcas de prestígio, como os chocolates baianos Amma e a linha Retratos do Gosto, e a chefs que brigam para conscientizar o público, como José Barattino, do Emiliano.
Já no primeiro mundo, começo a notar muita gente dando marcha-ré, parcialmente uma reação à recessão. Sim, orgânicos fazem bem à saúde e comprá-los nos dá a sensação de dever cumprido, mas a verdade é que custam muito mais caro.
Neste mês, a “Time” estampou na capa mosaico de frutas e verduras congeladas, chamando para reportagem sobre “a dieta antiesnobe”. O médico Mehmet Oz bateu contra o elitismo gastronômico:
“Nutricionalmente, há pouca diferença entre o espinafre da feira orgânica e um modesto bloco de espinafre saído do congelador (do supermercado)”.
Em uma tabela, comparou versões comuns de azeite, atum, chocolate etc. e seus pares “gourmets” e orgânicos. Que lado ganhou? Notou, por exemplo, que ovos de granja industrial são “boa fonte de proteína e vitamina B –e uma barganha”. Ovos de galinhas caipiras? “Caridosos, mas muito mais caros”, diz, sentenciando: “um ovo é um ovo”.
Duro? Sim. Há verdades que vão contra aquilo pelo que torcemos.
Orgânico ainda é para ricos, assim como mais vale um saco de mirtilo congelado em três segundos, usando alta tecnologia, do que caríssimas bolinhas azuis importadas do Chile, supostamente frescas.